terça-feira, 30 de abril de 2013

menos que um: primeira noite, billy collins e poesia contemporânea

Passeando pelo ótimo Poets.org encontrei o que é dito ser "o poeta mais popular da América" (pelo New York Times, e América aqui sendo, como é sabido, a terra do seu Sam), Billy Collins.

Lendo um poema do qual gostei (The First Night, que aqui está), resolvi traduzir pra começar o dia. Menos que um, apenas um exercício, já expliquei o que quero com este espaço.

Eis o poema traduzido e, abaixo, a versão original.


por Juliet Van Otteren
A pior coisa sobre a morte deve ser
a primeira noite.
- Juan Ramón Jiménez

Antes de te abrir, Jiménez,
nunca me ocorreu que dia e noite
seguiriam sempre em ciclo após a morte

mas agora estou pensando
se haverá também um sol e lua
se os mortos se reúnem para os ver nascer, se pôr

e então voltar, cada alma só,
a algum medonho equivalente de uma cama.
Ou talvez seja a primeira noite a noite única,

uma escuridão para a qual não temos nomes?
Quão débil o vocabulário frente à morte,
Quão impossível deitá-la ao papel.

Eis onde a linguagem vai parar,
cavalo que nos carrega por toda a vida
erguendo-se à beirada do penhasco.

Palavra que esteve no início
palavra que foi feita carne -
tais e todas mais irão cessar.

Mesmo agora, te lendo aqui na varanda em flora,
como hei descrever um sol brilhando pra além da morte?
Isso é o bastante que me amedronte

a prestar atenção a esta lua no céu do dia,
ao brilho do sol sobre as águas
refletido nas folhas da mata,

e a olhar mais de perto estas pequenas folhas,
o espinho sentinela
empregado em guardar a rosa.
The worst thing about death must be
          the first night.
                    —Juan Ramón Jiménez


Before I opened you, Jiménez,
it never occurred to me that day and night
would continue to circle each other in the ring of death,

but now you have me wondering
if there will also be a sun and a moon
and will the dead gather to watch them rise and set

then repair, each soul alone,
to some ghastly equivalent of a bed.
Or will the first night be the only night,

a darkness for which we have no other name?
How feeble our vocabulary in the face of death,
How impossible to write it down.

This is where language will stop,
the horse we have ridden all our lives
rearing up at the edge of a dizzying cliff.

The word that was in the beginning
and the word that was made flesh—
those and all the other words will cease.

Even now, reading you on this trellised porch,
how can I describe a sun that will shine after death?
But it is enough to frighten me

into paying more attention to the world’s day-moon,
to sunlight bright on water
or fragmented in a grove of trees,

and to look more closely here at these small leaves,
these sentinel thorns,
whose employment it is to guard the rose.

domingo, 28 de abril de 2013

menos que um: Shakespeare, Macbeth, som e fúria

Arthur Malaspina, meu amigo e (vagabundo) tradutor, dia desses falou sobre uma estrofe de Macbeth e arriscou uma tradução. Arrisquei outra, também. É aquela passagem famosa e impactante, "vida é som e fúria", todos sabemos. Som e fúria, já ouvimos por aí. Então cá estão o mestre Shakespeare e as nossas ousadias.

Life’s but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

(Shakespeare, Macbeth, ato V, cena V)



A vida é só uma sombra andando, ator simplório
afetado em seu instante sobre o palco
e logo mudo. Um conto contado
por um tolo, repleto de fúria, estrondo
e senso algum.

(tradução minha)


A vida não é nada além de uma
sombra que anda, um pobre ator que
pavoneia e lamuria seu instante
no palco e depois não é mais ouvido:
é um conto contado por um idiota,
cheio de som e fúria, significando nada.

(tradução de Arthur Malaspina)