quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

estrella errante: Tom Maver

Mudanças

1

Há uma mãe gritando ao filho.
Bater de portas, um gemido, dois silêncios.
No corredor, os passos de um velhinho
marcam o tempo mais que o som do elevador.
Toca um telefone inconsolável
em um apartamento onde ninguém quer atendê-lo.
Alguém leva o lixo à rua como se de algo estivesse salvo.


Mudanzas

1

Hay una madre gritándole a su hijo.
Hay un portazo, un gemido, dos silencios.
Los pasos de un viejo en el pasillo
marcan el tiempo, más que los ruidos del ascensor.
Un teléfono inconsolable suena
en un departamento donde nadie quiere atenderlo.
Alguien tira la basura como si de algo se salvara.

[Tom Maver, poeta argentino, no livro Yo, la incesiante nieve]

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

com a palavra: Manuel Iris

"Pois observem, em todo caso, que o poeta a quem outros poetas 'reconhecidos' impedem de escrever o que verdadeiramente necessita, ou o poeta a quem a falta de bolsas e prêmios impede de desenvolver a poesia que lhe faz falta, ou aquele de quem o menosprezo da crítica tira o sono e assombra a pena, ou o que anda esperando arranjar tal ou qual emprego para poder se dedicar à poesia, não é poeta, senão um desorientado que está nisso pelo que não é, que não compreende a questão: um poeta se dedica a perseguir sua própria voz, e nisso deve ser insubornável e completamente autônomo. Escrever é algo que se faz com ou sem bolsas, com ou sem amigos, com ou sem apoios, com ou sem trabalho.

O poema de cada um é, precisamente, o lugar em que exerce sua liberdade. Quem permite que esta liberdade seja tomada é um fraco, e ponto.

Uma coisa é a ansiedade das influências e outra muito diferente é a paralisia lamentosa. É necessário ser sempre honesto e escrever o que se é, a partir daquilo que se é, esteja na moda ou não.

E, se não há tempo, é preciso criá-lo."



"Pues miren ustedes, en todo caso, el poeta al que otros poetas “encumbrados” le impiden escribir lo que verdaderamente necesita, o al que la falta de becas o premios le impide desarrollar la poesía que le hace falta, o al que el ninguneo de la crítica no deja dormir y le estorba la pluma, o el que anda esperando a tener tal o cual trabajo para poderse dedicar a la poesía, no es un poeta, sino un despistado que anda en esto por lo que no es, o que no acaba de entender el asunto: un poeta se dedica a perseguir su propia voz, y en esto esto debe ser insobornable y completamente autónomo. Escribir se ejerce con o sin beca, con o sin amigos, con o sin apoyos, con o sin trabajo. 

El poema de cada quien es, precisamente, el lugar en que ejerce su libertad. Quien deje que ésta le sea arrebatada es un pendejo, y punto. 

Una cosa es la ansiedad de las influencias y otra muy distinta la parálisis quejumbrosa. Siempre hay que ser honestos y escribir lo que uno es, desde lo que uno es, esté de moda o no. 

Y si no hay tiempo, hay que crearlo."

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

menos que um: segundo réquiem para juan gelman

Epitáfio

Um pássaro vivia em mim.
Uma flor viajava em meu sangue.
Meu coração era um violino.

Quis ou não quis. Mas às vezes
me quiseram. Também me
alegravam: a primavera,
as mãos juntas, o feliz.

Digo que o homem deve sê-lo!

Aqui jaz um pássaro.
Uma flor.
Um violino.



Epitafio

Un pájaro vivía en mí.
Una flor viajaba en mi sangre.
Mi corazón era un violín.

Quise o no quise. Pero a veces
me quisieron. También a mí
me alegraban: la primavera,
las manos juntas, lo feliz.

¡Digo que el hombre debe serlo!

Aquí yace un pájaro.
Una flor.
Un violín.

menos que um: réquiem para juan gelman

Juan Gelman, poeta argentino que conheci apenas agora e apenas - imagino - pela divulgação de sua morte, é de fato um grande poeta. Posso dizer isso pelos poemas que li e tenho lido e traduzi, durante o dia de sua ida, que me falaram muito grandemente, que me significaram muito, em muitas coisas. Estilo, sobretudo. Não o conheci antes, conheço agora. É a vida, minha senhora, é a vida.

Costumes

não é para ficar em casa que fazemos uma casa
não é para ficar no amor que nós amamos
e não morremos para morrer
temos sede e
paciências de animal



Costumbres

no es para quedarnos en casa que hacemos una casa
no es para quedarnos en el amor que amamos
y no morimos para morir
tenemos sed y
paciencias de animal