domingo, 23 de julho de 2017

menos que um: olhar comum de pattiann rogers

Abaixo, a tradução que fiz de A Common Sight, da poeta americana Pattian Rogers. Agradeço às também poetas e ótimas leitoras Robin Myers e Micheliny Verunschk pelo incentivo à leitura e à tradução deste poema, respectivamente.


VISÃO COMUM

Há pelo menos um olho
para todas as coisas nesta tarde.
As algas e os germes, invisíveis
para alguns, por exemplo, são vistos
por protozoários; e os girinos
de cauda escura, aglomerados,
são encontrados pelo besouro
prenhe de ovos. A truta tem olhos
para as larvas sobre a água, peixinhos,
para as ninfas de libélula; outros peixes reluzentes
testemunham a presença
de tropéis de moscas d'água.

Os grãos de solidago
valiosos, são algo que procura
o gafanhoto, a quem, por sua vez, o musaranho
encontra num instante, se agitando
e atraindo os olhos bem treinados
do gavião que caça roedores.

Há um olhar para cada coisa.
A salamandra busca
vermes-crina-de-cavalo, e a aranha-pernilonga
presta atenção ao mosquito em voo,
e ao pernilongo. Pererecas
não passam despercebidas, sendo espiadas
sobretudo pelos quatis,
e ainda que seja noite por sob
a terra, a minhoca, a lagarta e a larva de cigarrinha são notadas
pela toupeira-nariz-de-estrela.

É tão estranho que nada passe despercebido.
Mesmo o tempo demonstra isso,
cada copépode na colônia possuindo
uma fotopercepção que é sensível
às horas, a congregação toda se erguendo
como se um corpo só, a tocar esta tarde
que existe pra fora do açude.

E eu tenho meu próprio olho
para esta visão específica, esta contínua
validação-pelo-olhar que é dada
e às vezes retida pelo mexilhão,
pelo percevejo-d'água, lince, pela abelha
silvestre, pelo mergulhão, pela mosca
de mais de mil olhos, pelo agreste e atento
molusco sombreiro.

Observe, eu te peço, como espreito. Observe
meu olhar, como o mantenho. Observe quanto tempo,
quão amável, observe
como alimento.