Uma proposta
acadêmica (1972) [hoje, sobre
literatura portuguesa nas escolas do brasil e o veto presidencial às
línguas e processos pedagógicos indígenas]
Por
um período de vinte e cinco anos, digamos, ou durante o tempo
necessário para uma nova geração descobrir onde ela vive, retire
as grandes epopéias gregas dos currículos de graduação
universitária & as substitua pelas grandes epopéias americanas.
Estude o Popol Vuh
onde se hoje estuda Homero, & estude Homero onde hoje se estuda o
Popol Vuh
– como antropologia exótica, etc. Se você tiver um espaço na sua
mente para a Antologia
grega (sabe-se
lá se você tem), deixe que seja preenchido pela Winged
Serpent
de Margot Astrov, ou pelo Technicians
of the Sacred,
do presente editor, ou ainda por este mesmo volume que você está
lendo. Ministre cursos de religião que comecem assim: “Este é o
relato de como tudo estava em suspensão, tudo em calma, em silêncio;
tudo imóvel, quieto, & a vastidão do céu era vazia” – &
use isto como uma norma para comparar todos os outros livros
religiosos, sejam eles gregos ou hebraicos. Encoraje os poetas a
traduzirem os clássicos americanos nativos (uma nova versão para
cada nova geração), mas primeiro lhes ensine a cantar. Deixe jovens
poetas índios (que ainda sabem cantar ou contar uma história)
ensinarem jovens poetas brancos a fazer isto. Estabeleça cadeiras em
literatura americana & teologia, etc., para serem ocupadas por
pessoas treinadas em transmissão oral. Lembre-se, também, que os
antigos cantores & narradores ainda estão vivos (ou que seus
filhos & netos estão), & que menosprezá-los, ou deixá-los
na pobreza, é um afronta ao espírito-da-terra. Chame esta afronta
de pecado-contra-Homero.
Dê
aulas com um chocalho & um tambor.
Jerome
Rothenberg – Etnopoesia no milênio. Organização de Sergio Cohn.
Tradução de Luci Collin. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2006,
p. 79-80