Gary
Snyder: Tive uma conversa engraçada com Clayton Eshleman, o editor e poeta, há
muitos anos, quando ele ainda estava em Quioto. Clayton falava sobre
poesia, exaustiva e apaixonadamente. E eu disse a ele: “Mas Clayton, eu já
tenho uma religião. Sou budista.” [...] Não acho que arte seja uma religião. Não
acho que ela lhe ajude a ensinar seus filhos como agradecer pela comida, como discernir
o verdadeiro do falso, ou como não prejudicar os outros. Arte certamente pode ajudá-lo
a explorar sua própria consciência, sua própria mente e suas próprias motivações,
mas não oferece um programa para sua realização. Penso que arte é bem próxima
do budismo e pode ser parte de sua prática, mas há terrenos que a psicologia e
a filosofia budistas devem explorar, e que a arte seria bem tola se tentasse.
Entrevistador: Então você faz essa distinção basicamente
sobre questões éticas?
Snyder: Bom, tem ética, tem filosofia, tem o espírito de
devoção, e tem também a simples capacidade de que isso se torne uma base
cultural, um território no qual você seja capaz de transmitir seu modo de ser-e-estar,
e a religião desempenha um forte papel nesse sentido. E também há o outro fim da
prática religiosa e budista, aquele que ultrapassa a arte. Por ele, você se
torna capaz de entrar no terreno da completude e beleza de todos os fenômenos. Você realmente entra no mundo, não precisa de
arte porque tudo é extraordinário, fresco e fantástico.”
Trecho da entrevista concedida em 1992, presente no livro Beat writers at work, editado por George Plimpton. Na apresentação da entrevista, a nota: "O que a transcrição não mostra é a quantidade de vezes que a conversa foi marcada por gargalhadas."
Tradução minha.
Tradução minha.