Joseph Brodsky foi uma das grandes descobertas que fiz na universidade. Poeta, crítico, analítico e realista como só a mãe Rússia consegue criar, foi preso e expulso da então União Soviética. Refugiou-se nos Estados Unidos e recebeu o Nobel de literatura em 1987. Por ele conheci muita coisa, como a incompletude do versículo "dai a outra face" (aqui: http://goo.gl/rC48p), as peripécias de Anna Gorenko/Akhmatova e a monotonia de cercas padronizadas, cores padronizadas e quadros padronizados do líder Lenin.
Conheci, também, WH Auden, e relendo o ensaio sobre o poeta inglês tive vontade de traduzir, a título de teste e exercício, um recorte de seu poema In Memory of W.B. Yeats, mencionado por Brodsky no início do ensaio. Inclusive, vim a saber agora, o trecho que Brodsky cita e que eu traduzo aqui foram, depois de escritos, cortados do poema pelo próprio Auden, e não costumam constar nas versões que achei por aí, pela internet (a versão que traduzo está aqui: http://goo.gl/q4zqB). Minha tradução é a de quatro estrofes da parte III, uma colagem votiva.
É um teste, um exercício, é menos que um poema. E assim, suponho, inauguro uma nova seção deste blog de traduções. Uma seção limitada e autoconsciente. Uma seção xará do livro de ensaios de Brodsky, que meu amigo Arthur Malaspina teve a bondade de me apresentar (Menos que um, aqui: http://goo.gl/w5H5t). Que as musas saúdem e salvem a todos eles, poetas e amigos.
In Memory of W.B. Yeats
(em memória de WH Auden
em memória de Joseph Brodsky)
O tempo, impaciente
Joseph Brodsky |
Com o medroso ou o valente,
Que não se importa nem um pouco
Com a beleza de um corpo,
Venera a linguagem e libera
A todos que dão vida a ela;
Perdoa o covarde, o que abusa
e diante deles se curva.
[...]
Segue, poeta, mantém o passo
Direto ao âmago do ocaso,
Com sua voz, tranquilamente
Aponte o júbilo pra gente.
Com sua voz, tranquilamente
Aponte o júbilo pra gente.
[...]
Nos desertos de dentro d'alma
Faz jorrar a fonte que acalma,
Na prisão de seus dias sem cor
Mostra ao homem o que é louvor.
In Memory of W.B. Yeats
Time that is intolerant
Wynstan Hugh Auden |
Of the brave and the innocent,
And indifferent in a week
To a beautiful physique,
Worships language and forgives
Everyone by whom it lives;
Pardons cowardice, conceit,
Lays its honours at their feet.
[...]
Follow, poet, follow right
To the bottom of the night,
With your unconstraining voice
Still persuade us to rejoice
[...]
In the deserts of the heart
Let the healing fountains start,
In the prison of his days
Teach the free man how to praise.
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