Na mesma aula ouvi falar sobre William Carlos Williams, uma espécie de pai antecessor dos poetas beat. A história era assim:
- Quando William Carlos Williams estava pra morrer, na cama do hospital, os beats todos se reuniram em volta, esperando o velho falar. Estavam todos lá, o doente ia morrer e eles estavam ansiosos para saber as últimas palavras, a poesia derradeira, qualquer coisa assim. O velho estendeu a mão, apontou o indicador pra janela e sentenciou: "Lá fora só tem filho da puta".
Se é verdade ou não, não sei. Vou defender essa história até a morte (em parte porque é muito boa, iconoclasta, em parte porque se ajunta às lendas de Raul Fiker - sério, são muitas e todas muito boas).
Cá está, portanto, uma traduçãozinha do visionário que sabia só existir, cá fora da janela, filhos da puta.
Lamento
Chamam-me e eu vou.
Passou da meia-noite,
a estrada congelada, pneu
crava no asfalto
a neve em duro rastro.
A porta abre.
Sorrio, entro e
descalço o frio.
Vejo a mulher inchada
deitada em seu lado da cama.
Ela está doente,
talvez vomitando
ou então no sufoco
para dar à luz
o filho dez. Viva! Viva!
A noite apaga as luzes
do quarto em que se trepa,
pela persiana emana o sol
um douradíssimo filete!
Tiro o cabelo de seus olhos
e assisto, em compaixão,
sua desgraça.
They call me and I go.
It is a frozen road
past midnight, a dust
of snow caught
in the rigid wheeltracks.
The door opens.
I smile, enter and
shake off the cold.
Here is a great woman
on her side in the bed.
She is sick,
perhaps vomiting,
perhaps laboring
to give birth to
a tenth child. Joy! Joy!
Night is a room
darkened for lovers,
through the jalousies the sun
has sent one golden needle!
I pick the hair from her eyes
and watch her misery
with compassion.
[e aqui, uma primeira versão da tradução tentada
Lamento
Chamam-me e eu vou.
Passou da meia-noite,
a estrada congelada, pneu
crava no asfalto
a neve em duro rastro.
A porta abre.
Sorrio, entro e
sacudo fora o frio.
Eis uma grande dona
em seu lado da cama.
Ela está doente,
talvez vomitando
ou então no sufoco
para dar à luz
o filho dez. Viva! Viva!
A noite é escuro
quarto para amantes,
pela persiana emana o sol
um douradíssimo filete!
Tiro o cabelo de seus olhos
e assisto sua desgraça
em compaixão.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário