terça-feira, 7 de maio de 2013

menos que um: dorothy parker, anti-suicídio e minha guia

Uma amiga zelosa que muito gosta de mim, experientíssima em tradução - currículo invejável, digo logo -, me apresentou Dorothy Parker e um seu poema, Resumé. Disse ela - a amiga, não a autora - que já tentara traduzir esses versos mas não tinha ficado satisfeita. Eu, como bom atravessador que sou, resolvi tentar. Espero que satisfaça pelo menos um pouco.

Logo de partida sua poesia me pareceu uma anti-poesia da experiência. É como se ela pegasse, pelo menos nesse resumé, Sylvia Plath, Anne Sexton, John Berryman (de quem traduzi uns poemas, alguns Dream Songs, que esperam por publicação através da nossa querida amiga, professora, poetisa e ser paranormal, Lucila Nogueira), todo o martírio e o solilóquio vivencial do suicídio e risse da cara dele. Anne Sexton tem um tanto disso, também, mas ainda assim...

Daí que Dorothy me pareceu muito agradável, especialmente pelo ritmo de seu resumo: é o mesmo ritmo que ouvimos cantarolado por crianças no caminho da escola, quando o menino mais velho e/ou mais esperto importuna o menor até esgotar o fôlego. Uma cantiga de escárnio infantil, que tentei reproduzir, com seu tom leve e ritmado, com seu desfecho irônico-superior.


Resumé

Lâminas te doem;
Rios são um tanto úmidos;
Ácidos corroem;
Drogas travam músculos.
Armas, ilegais;
Forca perde o laço;
Gás cheira demais;
Viva, que é mais fácil.





Razors pain you;
Rivers are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren’t lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live.

4 comentários:

  1. Ficou ótima sua tradução! Estou fazendo minha monografia da especialização comparando Emily Dickinson com Dorothy Parker e busco traduções de alguns poemas porque meu texto vai ser em português. Vou usar sua versão de Resumé e e citá-lo, obviamente.

    P.s. Adorei sua descrição da prof. Lucila!

    Fernanda Paulino

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  2. tenho voltado pra essa tradução por anos e me senti na obrigação de comentar - antes 6 anos atrasada do que nunca. é minha tradução preferida, de longe!

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